quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Um dos Caminhos

Eles se conheceram em um barzinho com música ao vivo.
Veio a vontade de estarem cada vez mais juntos após um período em que se conversaram e foram se conhecendo mais.
Não houve nenhum beijo, carícias ou qualquer toque mais prolongado, apenas era maravilhoso conversarem e beberem juntos. Os assuntos eram os mais comuns; filmes, noticiário, livros e experiencias que cada um tinha. Ele tinha 30 anos e ela 16.
Em uma noite ela exagerou na bebida e, por estar com uma saia muito curta, deixou ver mais do que faria se sóbria estivesse. Ele viu e aquilo mexeu muito com seus instintos. Foi necessário todo autocontrole para não ultrapassar os limites que haviam entre eles sem que tivessem combinado.
Ela se mostrava totalmente disponível. Ele procurava desviar o olhar e as intenções...
Quando ela se inclinou para lhe dar um beijo no rosto após uma frase qualquer ele pode ver parte dos belos e pequenos seios dela. O controle ficou ainda mais difícil.
Inventando um compromisso que não existia ele disse que precisava ir. Ela, com os braços em seu pescoço, pediu para dançarem uma música. Ele tentou resistir, precisava ficar longe daquele corpo que até então não despertara seus desejos. Adorava sua companhia mas, até então não a via como mulher e sim como uma pessoa muito boa de se ter por perto.
Cedeu e dançou com ela com a grande maioria das pessoas os olhando com emoções diversas. A maioria achando errado pois a diferença de idade era visível e estavam muito colados durante a dança.
Ele queria fugir dali de qualquer jeito e a chamou para ir pra fora. Ela aceitou e, abraçando-o bem forte, saiu agarrada a ele como se temesse que evaporasse de seus braços.
Deixaram o bar com a maioria dos olhares em suas costas. Caminharam até o ponto de ônibus, com ela cada vez mais colada no corpo dele e ele cada vez mais preocupado em se controlar. Dizia a si mesmo que era a bebida que estava comandando as atitudes dela e os pensamentos e desejos dele.
O ônibus dela veio primeiro, ela sequer fez menção de entrar, embora ele desse sinal e o veículo parasse. Quando veio o dele ela não o deixou entrar. Já era tarde e ficaria perigoso estarem ali, ele tentou argumentar ao que ela rebateu dizendo que estarem juntos era mais importante que tudo.
Ela tentou beijá-lo nos lábios, ele fugiu. Ela abraçada a ele, juntou mais ainda seus quadris, sentindo a excitação que ele já não podia mais esconder ou resistir.
Ofegante ele a beijou como nunca havia beijado alguém, suas mãos acariciando o corpo dela com sofreguidão. A eletricidade entre os dois iluminaria uma cidade inteira tamanha era a intensidade.
Havia um prédio em construção próximo ao ponto de ônibus e foi lá que fizeram amor até saciarem seus corpos cada vez mais sedentos um do outro. Ela com restos de sangue ainda nas pernas, ele com todo desejo e culpa do mundo, pegaram um táxi e foram para um hotel. Após três dias sem verem a luz do sol e mal se alimentarem, decidiram que era hora de sair dos braços um do outro.
Ele a deixou em casa e seguiu rumo a sua após longo e apaixonado beijo.
Os pais da menina o acusaram de pedofilia e abuso sexual de menor.
Ela protestou, chorou e ele foi preso.
Na cadeia ele foi agredido até a morte pelos outros detentos que, devido a uma gorda propina oferecida pelo pai da menina, foram informados pelo carcereiro tratar-se de um maníaco sexual.
Ela abandonou a casa dos pais e foi morar nas ruas, buscando a morte sem coragem de cometer suicídio. Passou a usar drogas, beber até perder a consciência, sofreu todo tipo de abuso e cometeu vários pequenos delitos.
Sonhava todo dia em estar nos braços daquele que não deixava de amar mesmo estando morto. Ele podia ter morrido para todos, não para ela. Queria matar os pais mas não tinha coragem, queria morrer mas não conseguia...
Um dia, não tendo onde dormir, decidiu ficar em uma igreja. Por volta de três horas da manhã acordou com uma luz intensamente azul e viu dentro dela um vulto. Julgou ser seu amado que vinha buscá-la e se aproximou dela. Um homem de mais ou menos 30 anos com barba até o peito e totalmente vestido de linho branco sorriu para ela, que não conseguia se mexer.
Aquele sorriso fez instantaneamente pararem suas dores, até a fome passou...
A voz não saia da boca, parecia sair de sua imaginação:
- Seu sofrimento termina hoje! Preciso de você, filha do meu amor!
Ela não conseguia falar. Como poderia portador de tanta paz, amor, caridade e tudo que há de bom precisar dela, se só o seu sorriso lhe dava vontade de viver?
Ele, como que ouvindo seus pensamentos, respondeu:
- Preciso de você, filha do meu amor, para contar aos que já esqueceram de que os amo e pedir novamente que amem aos outros como a si mesmos e a Deus sobre todas as outras coisas. São esses os pedidos e as leis que pedi que seguissem antes de me crucificarem mas a maioria já me esqueceu para seguirem outros homens que os escravizam usando a mensagem que deixei.
- Filha do meu amor, seu sofrimento chegou a mim como uma oração verdadeira e estou aqui.
- Suas lágrimas prepararam um caminho de luz que muitos poderão percorrer se você permitir.
Ela, aos prantos, disse:
- Você deve estar enganado. Existem tantas mulheres nas igrejas orando todos os dias, por que eu, que nem lembro de rezar?
- O amor verdadeiro é a maior chave para abrir as portas do céu e você o tem dentro de si. Isso já me bastaria, mas você é uma das minhas escolhidas. Eu não escolho os preparados, preparo os escolhidos.
O sorriso veio dos lábios dele de novo e a luz a banhou por inteiro.
Ela acordou pela manhã com o padre olhando para seu rosto com fisionomia brava e, ao mesmo tempo acolhedora.
Até sua morte ela se dedicou a espalhar o amor que havia recebido e que se multiplicava cada vez mais. Perdoou os pais, os assassinos de seu amado e todos os que dela abusaram e, em paz, viveu para os outros até voltar ao Criador de tudo e de todos. 

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