segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Arauto do Sangue II: A Chegada Em Huram

Hugo e a pedra negra apareceram num monumento semelhante a Stonehenge em Huram, pequena lua de Angredoes, um dos planetas de uma galáxia a vários anos-luz da Terra.
A gravidade parecia semelhante a da Terra, pouco importava, Hugo intuia que, fossem quais fossem as condições do lugar, seu corpo se adaptaria.
Olhou para a pedra, tão pequena que caberia em sua mão, pensou em destrui-la, mas teve medo de que caso o fizesse, também morresse.
Ainda estava nítido em sua mente o cenário que vivera e presenciara na Terra. Todos os amigos e conhecidos agora deveriam estar mortos. A culpa maior era dele que, querendo os poderes dela, destruira a vida de Israel, seu melhor amigo. O sangue de Israel fora o primeiro a alimentar os poderes da pedra negra, que trouxera, sabe-se lá de onde, as horrendas criaturas através da passagem nela criada com o sangue de incontáveis pessoas. As criaturas chegaram uma a uma até o total de 1200, número suficiente para exterminar a vida na Terra. A sede por sangue era interminável, sugerindo a Hugo um longo período sem se alimentarem. Seriam as horrendas criaturas capazes de ficarem sem alimento por séculos?
Como aquela família que havia exterminado em companhia de Israel tinha conseguido manter a pedra negra inativa por tanto tempo?
As respostas a essas perguntas talvez significassem vingança e liberdade.
A pedra precisava de sangue, Hugo soube assim que saiu do centro do monumento e olhou os seres muito semelhantes aos humanos dançando ao redor pelo lado de fora. Queria avisá-los do perigo mas não podia, a pedra negra o comandava e, provavelmente não saberia falar a lingua deles.
Os seres pararam de dançar e olhavam aquele estranho ser parecido com eles só que muito mais alto e todo manchado com um líquido viscoso que lembrava sangue. A pedra negra, escondida na mão do Arauto vibrava levemente.
Hugo, agora era o Arauto do Sangue, aquele que precederia a extinção de todos aqueles seres, inocentes ou não.
Caminhou para a saída da formação de pedras secularmente arranjadas em círculo, como a nossa Stonehenge. Quem as colocara ali? Quem colocou as da formação semelhante na Terra?
Ao chegar á parte onde sairia do círculo de pedras, seu corpo foi ficando mais pesado, cada passo parecia pesar toneladas, tudo em seu corpo era dor. Sentiu que cairia se continuasse. Não podia parar, a pedra não permitiria, ele soube.
Não poderia ficar e não sabia se conseguiria dar o passo seguinte, suas pernas pesavam toneladas...
Um dos seres, parecendo o que seria um ancião na Terra, aproximou-se de Hugo e o saudou na língua local. O Arauto, sem saber como, entendeu a saudação e respondeu que vinha das estrelas para aquela lua, Huram, trazendo a paz que seus senhores haviam prometido. Também disse, sem poder comandar o que sua boca dizia, que precisaria de sacrifícios de sangue para a aplacar a ira que haviam despertado por não obedecerem as regras dos Deuses Ancestrais. Prometeu ao Ancião que ele seria poderoso e teria tudo que quisesse, bastando para isso, que os sacrifícios começassem já naquele dia. O sangue de bebes nascidos no dia anterior seriam todos impuros e deveriam ser sacrificados aos Deuses Ancestrais. O sangue deveria ser todo retirado através de um corte na garganta que separasse a cabeça do corpo de cada bebe, que deveria estar  preso pelos pés e com a cabeça para baixo. Seriam 12 bebes de cada vez. Tudo aconteceria em um altar que já existia nas montanhas próximas ao local onde estavam, era só levar os bebes e fazer o sacrifício quando a pedra negra estivesse no centro do altar encaixada em um orifício a ela destinado.
Hugo chorava e as lágrimas não saiam, só as palavras que sua boca dizia mas que ele não comandava, era a pedra falando através dele.
O Ancião, entre temeroso e determinado, estendeu a mão para pegar a pedra negra das mãos de Hugo ao comando dela dado pela boca de Hugo, o Arauto do  Sangue.
Hugo queria de toda forma reagir, não conseguia.
Os seres, que lembravam os druidas terrestres, partiram com a pedra e Hugo não conseguia sair do círculo de pedras, cada vez que tentava, seu corpo ficava mais pesado e dolorido. Simplesmente não podia se aproximar da saída que, ironicamente não possuía portas, nem precisava, a barreira era invisível...
Não parava de pensar nos horrores que viriam. A sede de poder estava nos olhos do Ancião. Ele faria tudo o que fora ordenado. O Arauto sabia. Ele era a testemunha viva do poder da cobiça.
Só restava a ele aguardar e ser novamente testemunha de outro massacre em nome da cobiça de alguns e da fome insaciável de outros.
Sentado no centro da formação de pedras, local onde podia ficar sem dor ou peso excessivo dos membros inferiores, o Arauto do Sangue viu alguém se aproximando do local. A fêmea era linda e corajosa, enquanto todos seguiram o Ancião, ela ficou e se aproximou de Hugo sem demonstrar medo. O Arauto levantou-se e aguardou, era quase tudo que poderia fazer.
Nada do que ela disse Hugo entendeu. Tentou falar e, para sua surpresa, a voz saiu:
- Saia daqui e destrua a pedra, ela vai fazer todos serem exterminados!
Ela nada entendeu. Hugo lembrou de Israel e de Marco, ambos tinham o hábito de dizerem que, se não fossem entendidos, desenhariam.
Com o dedo, desenhou o horror que estava nítido em sua mente em detalhes no chão.
A "mulher" olhou, olhou e, assustada fez gestos para o Arauto, perguntando através deles se era o que aconteceria caso continuassem a contrariar os Deuses Ancestrais.
Hugo, desesperado, negou com a cabeça, aquilo aconteceria quando a pedra negra estivesse banhada em sangue, explicou através de gestos.
Ela, finalmente entendendo Hugo, fez gesto para que ele a seguisse. O Arauto não podia sair do círculo sob pena de morrer, explicou, através de gestos novamente.
Ela se foi e ele ficou fazendo  o que podia fazer. Esperar.
Em um tempo que lhe pareceu uma eternidade, ela voltou em companhia de outros seres, dentre eles um que não parecia ser daquela lua.
O ser caminhou diretamente na direção do Arauto do Sangue e, como quem reconhece um inimigo, interrogou mentalmente:
- Quanto tempo até começar?
Hugo respondeu também mentalmente:
- Já começou, assim que o sangue das crianças banhar a pedra negra, eles vão começar a vir e não haverá mais como resistir ao poder da pedra e depois ao deles, quando ficarem fortes o suficiente.
- Sabe como combatê-los?
- Não sei, quando fui mandado para cá, eles já haviam exterminado praticamente toda a raça humana.
- Minha missão é proteger essa lua com minha vida. Precisa haver uma forma...
- Espere, na Terra havia um grupo de pessoas que mantinha a pedra negra longe da luz e do sangue, envolta em uma espécie de couro com uns caracteres estranhos. Também o círculo de pedras estava parcialmente destruído.... Falou Hugo, sabendo que talvez não sobrevivesse à destruição do mesmo.
- Sou Cauã, o protetor de Huram! Exclamou o ser.
Cauã fora deixado em Huram pelos Guardiões da Natureza há vinte anos e deveria observar a formação onde estavam e destruir os seres que por ali chegariam. Os Guardiões eram seres gigantescos que não caberiam naquela lua de forma alguma. Tão gigantescos eram que não eram percebidos.
A descrição que o Arauto do Sangue deu dos seres horríveis que entrariam em Huram através da pedra negra batia com a que os Guardiões lhe deram. Possuía poderes que o tornavam um superser comparado aos demais mas sabia que não poderia enfrentar os Ricariunois, nome dos drenadores de sangue, tão antigos quanto os Guardiões.
Era Cauã também um Arauto, só que com a missão de impedir o ataque e, consequentemente, o extermínio de toda uma raça.
- Você sabe que tenho que destruir esse lugar não é?
- Sei, e também sei que provavelmente morrerei com isso. Vá em frente.
Cauã com gesto pediu a todos que se afastassem e, com força sobrenatural para um humano, começou a derrubar a formação ancestral.
De longe, um dos seguidores do Ancião que levara embora a pedra negra, correu para avisar seu mestre do que estava acontecendo. O Ancião, com os olhos revirados e enegrecidos, ordenou que um grupo atacasse os destruidores do Templo enquanto apressava os preparativos para os sacrifícios.
A batalha foi sangrenta, muitas mortes depois e um templo parcialmente destruido, com pedras de algumas toneladas espalhadas pelo chão e o Arauto do Sangue encolhido no centro foi o resultado.
Cauã, mesmo muito ferido era o único em pé ao término da luta.
De seu ponto de observação, Hugo tudo assistiu sem poder intervir. Cada pedra que caia do círculo era aumento de dores em seu corpo. Quando Cauã atirou uma das pedras de toneladas sobre um grupo que acabara de matar o último dos seus aliados, Hugo viu algo que estava sob a pedra.
Era um couro igual ao que vira enrolado na pedra negra no dia em que matou Israel.
Chamou Cauã e lhe mostrou o que poderia salvar Huram do extermínio, pelo menos enquanto a pedra nele estivesse enrolada.
Cauã queria terminar de destruir a formação de pedras, foi ai que Hugo lhe contou que na Terra a formação igual àquela estava muito mais destruída e, ainda assim, provavelmente todos foram exterminados. Era mais urgente envolver a pedra negra naquele couro e mantê-la longe da luz.
Cauã foi ao local onde os sacrifícios já haviam começado, o sangue de 12 bebes já banhava a pedra, que já estava adquirindo o brilho avermelhado que precederia a vinda de seus mestres, os Ricariunois, e sua sede insaciável de sangue. Seu tamanho já era o dobro de quando chegara em Huram.
O Ancião e seus seguidores atacaram Cauã que os dizimou e foi mortalmente ferido pelo Ancião que morreu em suas mãos. Cauã em seus últimos momentos, enrolou a pedra no couro e a enterrou o mais profundo que pode em uma caverna próxima dali. Morreu com um sorriso no rosto. Sorriso dos que cumprem a missão que lhes foi dada.
Hugo continuou ali, sentado. O tempo passou e passou...
O Arauto adormeceu e acordou em um lugar horrível e cheio de pedras negras. Sua mente foi se perdendo, já não racionava, foi lentamente perdendo a noção de tudo.
Em Huram, alguns seres encontraram uma caverna com um esqueleto enorme caído sobre um buraco parcialmente fechado onde, após algumas escavações, foi encontrada uma estranha pedra negra embrulhada em um couro com inscrições em uma língua estranha.
Um deles sacou uma arma e começou a atirar nos outros. A pedra negra seria dele, só dele...

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