Eis algumas definições da Morte, certeza absoluta do ser humano.
Ao nascer, estamos já a caminho da morte. O que fazemos entre o nascimento e a morte é que conta.
Nada trazemos nada levamos a não ser as sensações e experiências que tivermos. Boas ou ruins.
Certo homem buscou durante toda sua existência acumular riqueza e nada o impedia de buscar cada vez mais formas de muito ter. Chegou ao ponto de roubar os próprios pais e deixá-los na mais absoluta miséria.
Amores ofertados foram todos recusados, pois ter bens materiais significava em sua mente poder comprar pessoas e amores.
Família significava despesas e, portanto, desnecessária.
Amigos, só enquanto davam lucro ou oportunidades de tê-lo.
Religião não, todas elas só queriam seu dinheiro suado.
Caridade e amor só os tolos perdiam tempo com isso.
A solidão era a melhor companhia, pois podia em segredo ficar conferindo seus reais ganhos sem que alguém o espionasse e denunciasse ao governo a sonegação fiscal.
Os conselhos dados por pessoas que tentavam fazer com que acordasse eram motivo de piadas.
O tempo, senhor de todas as verdades, foi passando e, com ele, a juventude e a saúde...
Acamado e à mercê de médicos que sua paranóia tornava mercenários e inescrupulosos, não via a cura para sua doença degenerativa.
Seus bens não eram administrados da forma que ele fazia. Os empregados e parentes outrora humilhados é quem o destino cruel colocava para destruir tudo que conquistara de forma vertiginosa. Já não podia falar ou mover-se e, com requintes de crueldade, um de seus sobrinhos o colocava a par da falência de mais uma de suas múltiplas redes de lojas.
Lágrimas corriam de seu rosto enquanto parentes brigavam e dividiam seus bens antes mesmo de sua morte.
Foi dado como morto por três vezes e voltou, para decepção de seus parentes que não faziam questão de esconder o descontentamento.
Preso à cama nada podia ou conseguia fazer a não ser sofrer e muito.
Sentia um frio incomum a invadir o quarto e pode ver uma sombra escura a observá-lo. Soube de imediato que este era o fim, finalmente morreria e poderia escapar do arrependimento e da dor de ver tudo que conquistara se perder em tão pouco tempo. O fim era muito solitário, já não o visitavam mais. Cada vez que a porta do quarto abria aguçava os ouvidos para ouvir a voz de algum parente, não importava mais se eram xingamentos ou lamentações, precisava da presença de alguém...
Sentiu medo, solidão, desespero, saudade da mulher que tantas vezes lhe ofertara amor...
A fé que achava não sentir transformou-se em condenação no seu modo de ver, ele sequer sabia rezar e não podia pedir que rezassem por ele, não mais podia falar.
Intuía que a morte seria cruel com ele se existisse um local para onde iriam os mortos que, como ele, não acreditavam em Deus.
A quem pedir socorro se a toda forma de encontro com Deus virara as costas?
O vulto aproximou-se mais de seu leito de morte, já sentia o frio da presença e o hálito da morte.
Mentalmente pediu perdão a Deus e a todos que magoara, mesmo sentindo que não seria perdoado.
A passagem se deu de forma inesperada, não houve dor ou sons. Acordou em um lugar imaculadamente branco e cercado de olhares bondosos que deveriam estar enganados a seu respeito. Não aceitou os remédios e carinhos por achar que não era merecedor. Fechava-se em suas culpas e não era alcançado pelas palavras e vibrações a ele destinadas.
Tanto se recusou a perdoar a si mesmo que começou a sentir seu novo corpo, embora perfeito, cada vez mais pesado ao ponto de não conseguir mais caminhar naquele local iluminado, despencando finalmente para o lugar que achava merecedor de estar quem agia como ele agiu em vida.
Escuridão e sofrimento acompanhados de castigos e muita dor. Era isso que ele merecia era isso que estava acontecendo.
Não podia ou não conseguia perdoar seus erros...
Semeara e estava colhendo sem muita revolta. Apenas colhendo...
Aceitava e achava justo seu castigo. Não podia aceitar estar em um local de Luz, não ele.
Acreditava muito no ditado chinês que afirma; “A semeadura é livre, a colheita é obrigatória”
Ficou lá até achar que a pena fora cumprida.